Diferentes desfechos

Realmente, novela não é bem a minha especialidade. Acho todas muito chatas e repetitivas. Além disso, não tenho paciência de acompanhá-las.

Por outro lado, sei lá como, a gente acaba sabendo sobre o que rola nas novelas: é a vizinha que comenta, é a revista semanal de fofocas com as últimas, é o pessoal do trabalho falando da cor do esmalte da menina que faz o papel da empregada da irmã da prima da protagonista, e por aí vai.

Então, é claro que agora eu fiquei sabendo - desta vez pela minha mãe - da verdadeira suruba que anda rolando na novela das oito. Deixa ver se eu consigo reproduzir: Fulana é casada com Sicrano, mas tem um caso com Beltrano, que por sua vez come a Fulana2, que tem um caso com o Sicrano2, seu personal trainer, mas é casada com Beltrano2, que tem caso com a prima da sua mulher... ufa, acho que não esqueci ninguém! Parece até aquele poema de Drumond: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém..." e por aí vai.

Então começo a lembrar, não sem uma certa nostalgia, das antigas novelas, principalmente as mexicanas, cheias de suor, lágrimas e desespero, ao som de um bolero, onde Maria amava unicamente Pedro que amava solamente Maria, que não amava ninguém senão Pedro - eles sofriam a vida inteira, mas no fim terminavam juntos.

Longe aqui de julgar a conduta heterodoxa do próximo; afinal, como já dizia o sábio, cada um é cada um. Mas, a verdade é que as novelas de outrora eram muito mais fáceis de acompanhar. Hoje Maria está com Pedro, mas amanhã ninguém sabe. Pode estar com João, Carlos, Estebán ou até mesmo com Consuelo, numa recém descoberta tentativa de aceitação da própria tendência à diversidade sexual, seja lá o que isso signifique.

Sendo assim, pensei em uma situação hipotética e nos seus possíveis desfechos: o primeiro, da novela mexicana e o segundo, da novela das oito da Globo. Neste caso, temos uma mulher casada (Maria) esperando um filho que supostamente não é de seu marido (Pedro).

Na novela mexicana, Maria e Pedro seriam caseiros da residência de Estebán, o homem mais rico daquelas paragens. Estebán guarda um segredo sobre o passado de Maria, a chantageia e a leva para a cama, ao som de Usted, entoada pelo Trio Los Panchos. Tempos depois, Maria descobre que está grávida e fica consternada ao saber que carrega em seu ventre um filho de seu algoz, certeza que ela tem, uma vez que seu marido recebeu o diagnóstico de esterilidade do Dr. Alvarez, médico do vilarejo. Somente no último capítulo, depois de nascido o rebento, é que se descobre que o Dr. Alvarez fora subornado por Estebán, dando um falso diagnóstico a Pedro, que é o verdadeiro pai da criança, o que descobre após verificar que ela nascera com a marca dos Ramirez, família de Pedro, na palma da mão direita.

Na novela da oito da Globo, Maria também é empregada na casa de Etebán, mas ele não guarda nenhum segredo dela. N verdade, ele é um gato que não tem nenhuma dificuldade para seduzí-la ao som de Single Lady, entoada por Beyoncé. Maria e sua cama ficam divididas entre Pedro e Estebán. No final da trama, o bebê nasce e ninguém se preocupa em provar paternidade nenhuma, já que, afinal, estamos do lado de baixo do Equador, onde não existe pecado, segundo melodia antiga. Terminam os três morando juntos e criando juntos o filho. Maria sobe na vida, deixa de ser doméstica e nova empregada é contratada na casa para começar tudo de novo.