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No Amor e na Guerra

Published by Adriana Neumann under on 11:06:00 AM
Ela acordou e a primeira coisa que fez foi olhar pela janela. Que lástima! era começo de outono, caía uma chuvinha fina e fazia um pouco de frio. Sua vontade era de voltar pra cama, desligar o celular e fazer de conta que tinha deixado de existir.

Mas, tinha que trabalhar. Então, como todas as vezes em que quer espantar o mau humor, resolveu fazer aquela produção. Vestiu o tailleur preto que tinha uma racha estratégica na saia - usado no momento crucial de fechar um negócio - e uma lingerie de matar, comprada na Victoria's Secrets de NY. Certamente ninguém veria aquele corset preto com calcinha minúscula, mas somente o fato de saber que estava usando tais acessórios já lhe fazia sentir-se melhor.

Quando ia sair, lembrou-se que seu carro estava na revisão e que ela teria que ir a pé para o escritório. 'Melhor, mais pessoas verão a minha produção', pensou. E assim saiu, guarda-chuva em punho, cheia de confiança.

Enquanto atravessava a praça da igreja, avistou, descendo a escadaria do templo, o homem mais lindo em quem já havia pousado os olhos: moreno, alto, forte, do tipo que Deus criou num dia de extremo bom humor.

Não fez por menos. Estava linda, estava sexy, estava confiante, ele haveria de vê-la. Aprumou-se, caprichou no rebolado e seguiu em direção àquele habitante do Olimpo. Como sabia que o contato visual era muito importante nessa hora, achou por bem não tirar os olhos dele. Por isso não reparou que o piso estava escorregadio por causa da chuva e que um desleixado qualquer havia deixado cair um creme gosmento de alguma coisa que comia no caminho. Foi com tudo naquela maçaroca e, como não podia deixar de ser, caiu de bunda no chão.

Àquela altura, ela estava toda suja e ainda com o tal creme grudado no seu traseiro, sem contar que sua minúscula calcinha by Victoria's Secrets estava completamente à mostra. E o tal moreno vindo em sua direção.

O que fazer? Pasar por ridícula ela não ia, suja e molhada ela já estava. Não pensou duas vezes e 'tchuuumm', deitou no chão e fechou os olhos. Quando os abriu, viu que havia um pequeno ajuntamento de curiosos e o mancebo olhando para ela e lhe perguntando se estava bem e se havia desmaiado. Ela, com cara de santa sofredora e possuida do espírito de Sarah Bernhardt, colocou a mão à testa e disse que havia tido um mal súbito, que tudo havia ficado escuro e que a última coisa de que se lembrava era de estar cruzando a praça.

Gentilmente, ele a levantou e ainda se ofereceu para acompanhá-la até sua casa, sendo a idéia prontamente aceita. Seguiram conversando amenidades:

- Ainda não sei o seu nome.

- Augusto. E o seu?

- Calíope. Diferente, né? É que meu pai ama mitologia grega. Ela é uma das nove musas e...

- Sei quem é.

"Augusto, Augusto... lindo daquele jeito e ainda culto. Quem deveria ter nome de deus grego era ele, para fazer jus aos seus atributos, não de um simples e reles mortal imperador romano. Deveria se chamar Apolo, Adônis, Eros..." e arrepiou-se só de pensar nesse nome.

- Você deve estar febril, ficou arrepiada.

- É, pode ser. Mas, veja só, já chegamos, como o tempo passou rápido! Se você não se importa, gostaria que subisse comigo, estou um pouco insegura pra ficar sozinha em casa.

Subiram. Até agora estava dando tudo certo.

- Entra, fica à vontade. Aceita um chá? Então, vou colocando a água pra ferver enquanto tomo um banho e troco essa roupa suja.

Rapidamente, entrou no chuveiro. Sabonete, xampu, óleo - pele macia e cabelo cheiroso eram meio caminho andado. Cabelo molhado, bem sexy. Depois um perfume pra completar, um jeans justinho e uma camisetinha idem, com cara de velhinha de propósito, pra ele não achar que ela estava forçando a barra. Tudo propositalmente escolhido, embora ela tenha voltado com aquele ar inocente de que não tinha pensado em nada senão se enxugar e se livrar daquelas roupas imundas.

Sentou-se no sofá ao lado de Augusto e começou a falar:

- Pois é, descobri faz pouco tempo que tenho essa ataxia espinocerebelar autossômica, que é o que me dá esses desmaios. Uma chatice, mas eu não vou fazer você se aborrecer com detalhes da minha doença.

Ainda bem que ele não insistiu, porque ela também não sabia do que se tratava. Na verdade, alguns dias antes, havia visto isso por acaso num site e só sabia que era o tema de uma dissertação de um tal F.C. Moura. Na verdade, gozava de excelente saúde.

- Pior é que tenho que tomar todos esses medicamentos: afleutomitoxina de manhã e ostenodiprazol à noite. Muito ruim, não posso esquecer nunca.

E chorou no ombro de Augusto, lamentando a escravidão ocasionada pela doença. Assim tão perto, ele pode sentir como ela cheirava bem, como seus cabelos eram macios e sua pele aveludada. Não resistiu e a beijou profundamente. Depois disso, resolveram se conhecer melhor, o que levou o resto do dia.

Já era noite quando um Augusto relutante deixou o apartamento de Calíope, completamente apaixonado, dizendo ter descoberto a mulher da sua vida: sensual, carinhosa, meiga e ao mesmo tempo forte e positiva, mesmo lutando com uma doença tão terrível.

Calíope deu um longo suspiro. Teria que agradecer ao doutor F.C. Moura pela ajudinha. Apenas uma coisa a incomodava: se ficassem juntos, teria que tomar afleutomitoxina e ostenodiprazol todos os dias, pelo resto de sua vida. Mas, como se diz por aí, tudo é válido no amor e na guerra.

1 comentários:

Anônimo disse... @ 30 de janeiro de 2009 às 09:22

Mal posso esperar os próximos capítulos da saga!!!

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