Meu amigo, João Ninguém
Published by Adriana Neumann under on 12:55:00 PM
Essa figura merece um texto. Não só pela alegria que me causou, mas pela lição que recebi com relação ao que podem fazer o carinho, a atenção e o sorriso.
Há coisa de dois anos, apareceu na cidade um catador de papéis, com seus dois cães SRD e sua residência móvel, que nada mais é que um carrinho de quatro rodas com uma cobertura de latão ou alguma coisa do tipo.
Pois bem, no início era mais um desses tantos indigentes que andam por aí, sem dinheiro, sem família, sem sua casa e com um jeito totalmente amalucado e anti-social.
Antes de continuar a história, tenho que falar da minha cidade, da qual muitos falam mal, dizendo da frieza e falta de receptividade do povo. Mas, por tudo o que vou narrar, se verá que isso é uma imagem muito distante da realidade.
Prosseguindo: esse homem, cujo nome desconheço, por isso o João Ninguém, andava puxando sua "casa" pelas ruas da cidade e muitas vezes fazia do trânsito um verdadeiro caos. Mas, apenas uns poucos o xingavam, sendo que a maioria tinha uma certa simpatia e até piedade por aquele homem que carregava não só o peso da sua casa, como o dos seus cães que, invariavelmente, andavam sobre o telhado da morada.
(Aliás, já repararam que todo catador de papel tem pelo menos um cachorro?)
Certo dia, até o jornal local chegou a fazer uma reportagem com ele e seu veículo/residência; e ele ficou famoso.
Um belo dia, resolveu sentar praça em frente ao prédio da Justiça do Trabalho, onde vou todos os dias, geralmente roubando uma vaga de estacionamento, o que já é difícil. De qualquer forma, apesar de "enfeiar" um local público e tirar a possibilidade de alguém estacionar mais perto do edifício, ele nunca foi molestado por ninguém. Pelo contrário, todos eram cordiais com ele. Inclusive, o jornal organizou a brincadeira de amigo oculto no final de ano entre pessoas ilustres e dela ele participou, sendo sorteado por ninguém menos que o bispo diocesano da cidade, que foi até sua residência entregar o presente e visitar os cãezinhos.
Foi aí que eu, observadora que sou das pessoas e das situações, comecei a notar as mudanças. Um dia, ele me ajudou a estacionar meu carro, eu agradeci e ele resmungou qualquer coisa ininteligível. No outro dia, a mesma coisa. Tempos mais tarde, esboçou um sorriso, o que me fez notar a falta de alguns dentes. Dali a pouco batia papo com os transeuntes e um dia, para minha surpresa, chegou a reservar uma vaga para eu parar meu carro.
Fiquei alguns dias sem aparecer e, quando voltei, vi que em sua casa agora havia uma plaquinha dizendo "Deus é amor" e que ele havia cortado o cabelo e feito a barba, que já tinha um meio metro.
Por fim, semana passada, o dia estava horrível, chovendo fininho e meio frio. Eu havia terminado minhas tarefas do dia e estava indo embora, quando passei por ele, sorrindo e desejando uma boa tarde. Foi quando ele disse: "Clareou, hein doutora?" Eu não entendi e respondi: "Tá louco? Clareou nada, o tempo tá horrível!"
E a resposta dele foi o presente que recebi no dia: "Mas, quando a doutora sorri, é como se o sol aparecesse."
Fiquei lisonjeada com o elogio, claro, mesmo porque é difícil aparecer cavalheiros galantes hoje em dia. Mas, o presente mesmo foi ver a radical mudança em uma pessoa que só precisava de um pouco mais de carinho e atenção, pra se sentir feliz.
Por isso agora pra ele Deus é amor. Porque ele vê o amor no coração das pessoas.
Essa atitude, de toda uma comunidade, valeu muito mais que o turbilhão de versículos bíblicos com que alguns evangelistas entusiasmados costumam nos bombardear todos os dias. Ela deu esperança, fé e amor a alguém que já não as tinha.
E isso vale como lição de vida!
Há coisa de dois anos, apareceu na cidade um catador de papéis, com seus dois cães SRD e sua residência móvel, que nada mais é que um carrinho de quatro rodas com uma cobertura de latão ou alguma coisa do tipo.
Pois bem, no início era mais um desses tantos indigentes que andam por aí, sem dinheiro, sem família, sem sua casa e com um jeito totalmente amalucado e anti-social.
Antes de continuar a história, tenho que falar da minha cidade, da qual muitos falam mal, dizendo da frieza e falta de receptividade do povo. Mas, por tudo o que vou narrar, se verá que isso é uma imagem muito distante da realidade.
Prosseguindo: esse homem, cujo nome desconheço, por isso o João Ninguém, andava puxando sua "casa" pelas ruas da cidade e muitas vezes fazia do trânsito um verdadeiro caos. Mas, apenas uns poucos o xingavam, sendo que a maioria tinha uma certa simpatia e até piedade por aquele homem que carregava não só o peso da sua casa, como o dos seus cães que, invariavelmente, andavam sobre o telhado da morada.
(Aliás, já repararam que todo catador de papel tem pelo menos um cachorro?)
Certo dia, até o jornal local chegou a fazer uma reportagem com ele e seu veículo/residência; e ele ficou famoso.
Um belo dia, resolveu sentar praça em frente ao prédio da Justiça do Trabalho, onde vou todos os dias, geralmente roubando uma vaga de estacionamento, o que já é difícil. De qualquer forma, apesar de "enfeiar" um local público e tirar a possibilidade de alguém estacionar mais perto do edifício, ele nunca foi molestado por ninguém. Pelo contrário, todos eram cordiais com ele. Inclusive, o jornal organizou a brincadeira de amigo oculto no final de ano entre pessoas ilustres e dela ele participou, sendo sorteado por ninguém menos que o bispo diocesano da cidade, que foi até sua residência entregar o presente e visitar os cãezinhos.
Foi aí que eu, observadora que sou das pessoas e das situações, comecei a notar as mudanças. Um dia, ele me ajudou a estacionar meu carro, eu agradeci e ele resmungou qualquer coisa ininteligível. No outro dia, a mesma coisa. Tempos mais tarde, esboçou um sorriso, o que me fez notar a falta de alguns dentes. Dali a pouco batia papo com os transeuntes e um dia, para minha surpresa, chegou a reservar uma vaga para eu parar meu carro.
Fiquei alguns dias sem aparecer e, quando voltei, vi que em sua casa agora havia uma plaquinha dizendo "Deus é amor" e que ele havia cortado o cabelo e feito a barba, que já tinha um meio metro.
Por fim, semana passada, o dia estava horrível, chovendo fininho e meio frio. Eu havia terminado minhas tarefas do dia e estava indo embora, quando passei por ele, sorrindo e desejando uma boa tarde. Foi quando ele disse: "Clareou, hein doutora?" Eu não entendi e respondi: "Tá louco? Clareou nada, o tempo tá horrível!"
E a resposta dele foi o presente que recebi no dia: "Mas, quando a doutora sorri, é como se o sol aparecesse."
Fiquei lisonjeada com o elogio, claro, mesmo porque é difícil aparecer cavalheiros galantes hoje em dia. Mas, o presente mesmo foi ver a radical mudança em uma pessoa que só precisava de um pouco mais de carinho e atenção, pra se sentir feliz.
Por isso agora pra ele Deus é amor. Porque ele vê o amor no coração das pessoas.
Essa atitude, de toda uma comunidade, valeu muito mais que o turbilhão de versículos bíblicos com que alguns evangelistas entusiasmados costumam nos bombardear todos os dias. Ela deu esperança, fé e amor a alguém que já não as tinha.
E isso vale como lição de vida!
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