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Versões

Published by Adriana Neumann under on 8:25:00 AM
Fiquei sabendo de um novo filme com a Amanda Seyfried, que é uma nova versão da velha história da Chapeuzinho Vermelho. Ao que me parece, ela tem um amor na floresta e ambos são ameaçados por uma criatura misteriosa que seria uma nova leitura do Lobo Mau.

Enfim, seja como for, é mais uma versão para um mesmo e antigo conto de fadas - que não tem nenhuma fada, diga-se de passagem...

Aí eu me lembro de que uma vez, no meu aniversário, ganhei um belo livro com contos dos Irmãos Grimm e até hoje me lembro do espanto que tive ao ver que, segundo aquela versão, o lobo comia a vovó, a Chapeuzinho e até os caçadores - bem thriller movie mesmo, não poupava ninguém.

Interessante que, quando eu ganhava livros de aniversário, como até hoje, eu já os devorava na mesma noite e sempre ouvia minha avó dizendo: "Menina, isso são horas pra uma criança ficar acordada? Já são duas da manhã, pare de ler e vá dormir já!"

E naquela noite eu li o conto, fiquei horrorizada e tive pesadelos. Minha avó se vingou!!

Mas, esses dias, eu pensei então em dar novas versões a contos e fábulas, a começar pela fábula "A Cigarra e a Formiga", de La Fontaine. Posso imaginar vários desfechos, dos mais trágicos aos mais edificantes, com mensagens de justiça social ou de total descrença na humanidade. Mas, para não cansar o leitor, separei quatro versões:


VERSÃO "A VIDA COMO ELA É"

É verão. Prados verdejantes, sol e calor. A formiga e suas operárias trabalham incansavelmente juntando folhas, como suprimento para o inverno que chegaria seis meses depois. A cigarra, inspirada pela beleza das flores e pelo carinho da leve brisa que a envolvia, apenas canta, como se não fosse haver amanhã.

Vem o inverno. A formiga recolhe-se à sua toca e refestela-se com os alimentos arduamente acumulados durante o verão. Enquanto isso, a cigarra sofre com fome e com frio.

A cigarra bate à porta da formiga e ela lhe nega abrigo e comida, embora lhe sobrem espaço e víveres, dizendo-lhe que deveria ter sido mais prudente e trabalhadora, ao invés de só ficar cantando.

A cigarra morre de fome e frio junto à entrada da toca da formiga.

Fim.


VERSÃO "O AMOR É LINDO" OU "PARA CONTAR AOS FILHOS, COMO LIÇÃO DE MORAL"

É verão. Prados verdejantes, sol e calor. A formiga e suas operárias trabalham incansavelmente juntando folhas, como suprimento para o inverno que chegaria seis meses depois. A cigarra, inspirada pela beleza das flores e pelo carinho da leve brisa que a envolvia, apenas canta, como se não fosse haver amanhã.

Vem o inverno. A formiga recolhe-se à sua toca e refestela-se com os alimentos arduamente acumulados durante o verão. Enquanto isso, a cigarra sofre com fome e com frio.

A cigarra bate à porta da formiga e ela a acolhe na sua toca quentinha, repartindo com ela o alimento. É Natal e ambas se abrigam ao pé da lareira e a formiga, em paz, ouve Noite Feliz entoada pela agradecida cigarra.

Fim.


VERSÃO "POP"

É verão. Prados verdejantes, sol e calor. A formiga e suas operárias trabalham incansavelmente juntando folhas, como suprimento para o inverno que chegaria seis meses depois. A cigarra, inspirada pela beleza das flores e pelo carinho da leve brisa que a envolvia, apenas canta, como se não fosse haver amanhã.

Vem o inverno. A formiga recolhe-se à sua toca e refestela-se com os alimentos arduamente acumulados durante o verão. Pensa que o trabalho foi árduo, mas compensador, porque hoje ela está bem e segura.

Eis que lhe batem à porta. É a cigarra, sexy, exuberante, luxuosamente vestida com um modelo da coleção de inverno de Roberto Cavalli:

"Amigaaaa, você não sabe o que aconteceu! Eis que eu estava a cantar nos prados verdejantes, quando um caçador de talentos me ouviu e me incentivou a participar do American Idol. Menina, ar-ra-sei!!! Todos me adoraram. Gravei um CD em dueto com a Lady Gaga e fomos as primeiras no hit parade! Agora estou indo passar o reveillon em Paris, a convite de K. Lagerfeld. Você quer alguma coisa de lá?

"Sim", disse a formiga. "Se você encontrar um tal La Fontaine por lá, diga pra ele ir tomar no c%$#*".

Fim.


VERSÃO "PT"

É verão. Prados verdejantes, sol e calor. A formiga e suas operárias trabalham incansavelmente juntando folhas, como suprimento para o inverno que chegaria seis meses depois. A cigarra, inspirada pela beleza das flores e pelo carinho da leve brisa que a envolvia, apenas canta, como se não fosse haver amanhã.

Um dia as operárias se dão conta que trabalham sem carteira assinada e entram com uma ação contra a formiga perante a Justiça do Trabalho. Ao mesmo tempo, o IBAMA multa a formiga por desmatamento. Cheia de dívidas e sem ter como dar continuidade ao trabalho, a formiga abandona sua fazenda, que é desapropriada pelo Governo, por ser considerada improdutiva. A fazenda entra no programa de reforma agrária.

A cigarra, a essa altura, faz parte do MST, por ser um grande sucesso nas rodas de violeiros dos acampamentos. E aí, num desses golpes de sorte, ganha do Governo a fazenda que outrora havia sido da formiga.

Mas, a cigarra havia sido feita para cantar e não para arar a terra. Então, vende sua fazenda para a formiga, põe um bom dinheiro no bolso e volta para o MST, para, na linha de frente das passeatas, prosseguir num hino:

"Caminhando e cantando e seguindo a canção..."

Fim.


Pois é, no final das contas, ainda acho mais vantajoso ser cigarra. Afinal, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

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