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Mil reais

Published by Adriana Neumann under on 9:35:00 PM
Tati, nossa personagem unida a Maria das Dores alguns textos atrás, era uma pessoa estranha, que guardava consigo uma maldição: era muito engraçada.

Seus dias podiam ser bons ou ruins, pacíficos ou turbulentos, nada do que dizia ou falava deixava de ter uma conotação de humor. Tati dizia: "Gente, estou arrasada" e seus amigos respondiam "Huahuahuahua Tati, conta outra!" Ela, então, dizia: "A vida não presta, que venha 2012!" e aí que eles rolavam de rir.

E assim Tati vivia seus dias, numa profunda, só e dolorida alegria...

Ela nunca havia tentado se matar, mas tinha certeza que, se o fizesse, sua não-morte seria lembrada em rodinhas às gargalhadas, ou porque a corda da forca estava puída e se rompeu, ou porque o veneno estava vencido ou porque a lâmina de barbear que ia ser usada para cortar seus pulsos estava cega.

Então Tati, não aguentando mais tanta alegria, resolveu tomar uma atitude drástica: fez uso de calmantes fortes e foi dormir. Logicamente, quando acordou no dia seguinte, não estava morta (mesmo porque, como já dissemos, não tinha o perfil suicida), mas estava dopada o suficiente para não conseguir sair da cama.

Sendo assim, Tati ligou a TV do seu quarto e começou a assistir a programas dos quais não se lembrou no dia seguinte. Também não se lembrou do anúncio de algo à venda, que achou muito interessante e resolveu comprar.

Apenas hoje, uma semana depois do ocorrido, é que o mistério foi desfeito e Tati, moradora de um apartamento no décimo segundo andar de um edifício nos Jardins, não sabe o que fazer com uma sela de montaria comprada através de um anúncio no Canal do Boi, nem como justificar a seu pai a despesa de mil reais feita no seu cartão de crédito.

2 comentários:

João Gilberto Saraiva disse... @ 23 de maio de 2010 às 10:45

Esse texto me lembrou um pedacinho do passado. Um colega morreu nas férias. Quando voltou o ano letivo eu e um amigo (ao estilo da sua personagem) fomos aos poucos informando os colegas que não sabia. Quando eu contava, as pessoas ficavam sérias. Quando ele contava as pessoas riam, quando ele insistia, riam mais ainda. Qual a credibilidade da palavra séria de um palhaço?

Gostei desse texto, parabéns doutora.

Nathi disse... @ 24 de maio de 2010 às 18:15

A pior maneira de ser alguém solitário: em sua verdadeira alegria enganosa.

Algumas pessoas nos parecem tristes quando felizes e outras felizes quando tristes, qual nosso problema em ler as pessoas? Acho que não são elas que estão erradas, mas nós em não nos esforçamos para ler seus olhos, importando-nos só com seus sorrisos, sejam vermelhos ou amarelos.

Fico triste pela alegria de Tati.

Fico feliz por sua visita!(respondi seu recado lá!)

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