Estereótipo
Published by Adriana Neumann under on 12:31:00 PM
Ela acordou naquela manhã cansada e preocupada. Estivera com o marido em uma festa na noite anterior, a primeira depois de um longo período de jejum social, por conta de uma doença que lhe deixara de cama por alguns meses.
Levantou-se, deu o bom-dia de praxe ao seu marido e foi preparar o café.
Começou a lembrar dos acontecimentos recentes. Ao chegar à festa, seu marido havia aberto a porta do carro para ela sair. No salão, perfeito dândi, foi cortês com as senhoras presentes, elogiando a todas, mesmo as menos dotadas de predicados. No jantar, colocou o guardanapo de pano no colo e não arrotou. Estava elegantemente vestido e sua camisa tinha abotoaduras.
Naquele inevitável momento em que os casais se separaram - homens para um lado e mulheres para o outro -, ao se formar a rodinha masculina para falar sobre futebol, ele gentilmente se afastou para sentar-se ao lado dela e se juntar ao grupo de mulheres que conversava animadamente.
Enquanto os homens, quase no final da festa, já haviam arrancado seus paletós e suas gravatas, ele ainda permanecia impecavelmente vestido e penteado.
Todos os maridos bebiam cerveja e conservavam 'aquela' barriguinha. Ele, ao contrário, bebia quando muito um vinho, apenas para acompanhá-la, e fazia abdominais. As mulheres, por sua vez, reclamavam de seus maridos que chegavam suados e cheirando a cachaça misturada com chulé do futebol das quartas-feiras. Ela nada tinha para falar, porque seu marido odiava futebol e vivia perfumado.
Ainda naquela semana, ela havia convidado seu marido para assistir ao mais recente episódio de Law and Order - Criminal Intent e ele declinou, dizendo que filmes policiais lhe estressavam. Preferiu ir para a sala ouvir Brahms.
Enquanto estivera doente, seu marido lhe levava flores e se sentava com ela por longas horas, para - pasmem! - apenas conversar.
Seu marido não coçava o saco. Seu marido era sensível. Seu marido gostava de animais e da natureza. Seu marido cheirava bem e não enchia a cara. Usava abotoaduras.
Ela estava realmente preocupada: seu marido estava aviadando!
Já à mesa, ela quebrou o silêncio para perguntar:
- Responda rápido: que time é lider do campeonato pernambucano?
- Não faço a mínima ideia.
- Em que posição o Juninho Baiano joga: beque central ou zagueiro?
- Ué, sei lá...
Numa atitude desesperada, já com os olhos cheios de lágrimas, sem dizer uma palavra, ela o puxou para o quarto. Cinquenta minutos depois, extava exausta e com um sorrisinho bobo no canto dos lábios.
Não havia razão para se preocupar.
Levantou-se, deu o bom-dia de praxe ao seu marido e foi preparar o café.
Começou a lembrar dos acontecimentos recentes. Ao chegar à festa, seu marido havia aberto a porta do carro para ela sair. No salão, perfeito dândi, foi cortês com as senhoras presentes, elogiando a todas, mesmo as menos dotadas de predicados. No jantar, colocou o guardanapo de pano no colo e não arrotou. Estava elegantemente vestido e sua camisa tinha abotoaduras.
Naquele inevitável momento em que os casais se separaram - homens para um lado e mulheres para o outro -, ao se formar a rodinha masculina para falar sobre futebol, ele gentilmente se afastou para sentar-se ao lado dela e se juntar ao grupo de mulheres que conversava animadamente.
Enquanto os homens, quase no final da festa, já haviam arrancado seus paletós e suas gravatas, ele ainda permanecia impecavelmente vestido e penteado.
Todos os maridos bebiam cerveja e conservavam 'aquela' barriguinha. Ele, ao contrário, bebia quando muito um vinho, apenas para acompanhá-la, e fazia abdominais. As mulheres, por sua vez, reclamavam de seus maridos que chegavam suados e cheirando a cachaça misturada com chulé do futebol das quartas-feiras. Ela nada tinha para falar, porque seu marido odiava futebol e vivia perfumado.
Ainda naquela semana, ela havia convidado seu marido para assistir ao mais recente episódio de Law and Order - Criminal Intent e ele declinou, dizendo que filmes policiais lhe estressavam. Preferiu ir para a sala ouvir Brahms.
Enquanto estivera doente, seu marido lhe levava flores e se sentava com ela por longas horas, para - pasmem! - apenas conversar.
Seu marido não coçava o saco. Seu marido era sensível. Seu marido gostava de animais e da natureza. Seu marido cheirava bem e não enchia a cara. Usava abotoaduras.
Ela estava realmente preocupada: seu marido estava aviadando!
Já à mesa, ela quebrou o silêncio para perguntar:
- Responda rápido: que time é lider do campeonato pernambucano?
- Não faço a mínima ideia.
- Em que posição o Juninho Baiano joga: beque central ou zagueiro?
- Ué, sei lá...
Numa atitude desesperada, já com os olhos cheios de lágrimas, sem dizer uma palavra, ela o puxou para o quarto. Cinquenta minutos depois, extava exausta e com um sorrisinho bobo no canto dos lábios.
Não havia razão para se preocupar.
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