John Donne - quem é esse cara?
Published by Adriana Neumann under on 2:05:00 PMJohn Donne nasceu em 1572, em Londres, numa família católica, fato um tanto raro e perigoso para a época. Posteriormente, ele e sua família se converteram e ele veio até a se tornar um clérigo da Igreja Anglicana, mas isto não é o mais importante.
Na verdade, o bacana da biografia de Donne é que ele era um poeta. Aliás, não só um poeta (como se ser um poeta fosse só isso...), mas um dos expoentes da chamada poesia metafísica inglesa. Aliás, é bom dizer que metafísica naquela época, era mais ou menos o mesmo que Filosofia, o que vale dizer que poetas metafísicos eram poetas pensantes - e não apenas divagantes.
Agora, o que me faz ser fã desse cara é que ele consegue agregar em suas obras pensamentos eróticos e outros em que demonstrava profunda riqueza espiritual. Longe do padrão platônico, para quem a carne era aquela que impedia o evoluir do espírito, Donne - dentro do melhor espírito protestante, pelo qual espírito não vive sem o corpo - conseguia fazer com que sua sensualidade estivesse em perfeita harmonia com sua espiritualidade.
São dele os famosos versos "portanto não pergunteis por quem os sinos dobram - eles dobram por ti", trecho da "Meditação 17", mostrando a grande compaixão que tinha pelo próximo, própria daqueles voltados para a coisas do espírito.
Mas, ao mesmo tempo ele consegue dizer coisas como em sua "Elegia: Indo para o Leito": "nem penitência nem decência agora; para ensinar-te eu me desnudo antes: a coberta de um homem te é bastante". E isso lá pelos idos de 1500 e pouco!
Assim, por todos esses motivos, o poeta merece o nosso aplauso: por ser ousado, um homem à frente do seu tempo, um ser pensante e, principalmente, sem falsos pudores.
Bravo, John Donne!
MEDITAÇÃO 17
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
ELEGIA: INDO PARA O LEITO
Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu
De Maomé.
E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la.
Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-Te:
atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
2 comentários:
Confesso que quando eu li - pensei logo de cara no JOHN DOE [que em inglês seria mais ou menos com um Zé Ninguém] - então imaginei que você falaria sobre os zés desconhecidos deste nosso mundo.
Aliás, me deu uma boa idéia de post.
Mas achei legal conhecer o John Donne. Eu ainda não o conhecia!
Mais um na lista! Valeu, moça!
Olá Flavinho,
Obrigada pela visita!
De fato, John Donne é tudo de bom. Fico contente por vc ter gostado. Mas, ele tem outras obras belíssimas! Se puder lê-las, tenho certeza de q vai gostar.
E depois não deixe de me dizer o q achou.
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