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Palavras de um prosopoeta - Sobre maçãs e flores

Published by Adriana Neumann under on 9:47:00 AM


“Mulheres são como maçãs em árvores, as melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, eles estão errados… Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.” [texto que recebi como sendo ‘supostamente’ de Machado de Assis]

Nos últimos dias tenho pensado sobre maçãs e flores, sobre grimpas e redomas de vidro, até sobre amizades e amores. E, embora pense bem sobre essas coisas, não as consigo explicar ao falar delas a quem me importa que saiba o que penso. Não conseguindo falar, talvez consiga escrever.

Foi-me dado um texto sobre “melhores mulheres e homens atrevidos” para que aprendesse eu uma lição acerca de coragem e recompensa, acerca de mulheres especiais e homens destemidos. Parece-me que o texto desconhece que mulheres não são como maçãs, não são objetos raros destinados ao consumo dos mais-qualquer-coisa-do-que-os-outros. Mulheres, penso eu, são parte de um plano, são pares de uma dança proposta por Deus, de um acordo que inclui querer e amar mútuos, resolutos e abnegados.

Subir às grimpas de uma árvore, debruçada sobre um penhasco, e de lá trazer o mais vermelho e rubro pomo é sim prova de vontade inabalável e de espírito aventureiro, mas não prova o caráter de um homem. Crianças brincam em árvores e buscam as grimpas só por vaidade. Homens buscam o fruto que lhe tenha valor, que lhe sacie a alma e não o ego.

Por sua vez, maçãs rubras sabem em sua essência que valor algum há na altura em que se prendem às grimpas, mas que no teor de sua polpa, na doçura de sua seiva, na fome que saciará, nestas coisas reside sua importância. Logo, os melhores pomos não se envaidecem da posição e da dificuldade que oferecem, mas sabem que só homens refinados saberão apreciar sua vida, ainda que as encontre verdes, ainda que tenham que guardá-las no calor de suas mãos até que amadureçam. Querem as maçãs de valor ter a certeza de que agradarão ao ser colhidas, que servirão de alimento farto e não apenas de troféu aos atrevidos da vida, essa é a motivação verdadeira, e isso foge aos atrevidos e às fascinadas com a própria altura que as cerca.

Mas, entre maçãs e flores, entre estar livres nas altas grimpas ou precisar de quem as cuide para que sejam belas e os carneiros não lhes destruam, talvez tenham as rosas mais consciência de sua importância. Ainda que não venham mudar o mundo, ainda que nunca se encontrem em alturas dignas dos destemidos-mais-que-todos, sabem as rosas que vivem para fazer mais felizes os dias de quem as cuida, sabem as rosas, de pétalas rubras, de quatro ou cinco espinhos-de-nada, que serem regadas é importante para elas e para as mãos cuidadosas que as umedecem pela manhã.

Sabem as rosas que seu perfume provoca a felicidade gratuita e impagável no coração de quem as cuida e as observa sem se importar com a finalidade grandiosa de sua tarefa; não há prêmios para os melhores tratadores de roseirais, só para os atrevidos escaladores de macieiras abissais.

Vivem as rosas para trazer nas pétalas o toque macio que inebrie os dedos de seu cultor, fazem isso sabendo que em nada sua singeleza será premiada com holofotes; mas como se sentem felizes, como se sentem bem em saberem que seu toque permanece por dias a fio na alma de quem as tocou.

No fim, ainda que menos modestas, são menos vaidosas as rosas, são mais cientes de que um dia o grande criador as fez para serem apenas o que são e agradar tão somente a quem agradam, poucos e agradecidos, não os atrevidos e vaidosos. No fim, sabem que valerá a pena um dia em sua companhia pelo bem que faz, porque assim quis fazer, à alma do que abriu mão das glórias e dos pódios para cuidar de pequenas e frágeis rosas.

Sim, as rosas precisam de redomas, que as protejam das intempéries e dos predadores, enquanto as maçãs se gabam da liberdade irrestrita que desfrutam nos cumes das macieiras; mas pobres maçãs, não há quem as queira quando acordam sem viço, ou o tempo lhes azeda um pouco; todavia, cada pétala da rosa querida, ainda que perca o viço, é guardada nas páginas de uma vida.

“E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância.” (última frase de O pequeno príncipe)

Duas observações:

1- o texto não é meu. É do TOM FERNANDES, um grande homem, que tem textos incríveis e cujo blog merece ser visitado: http://tomfernandes.wordpress.com/

2- as rosas que ilustram o texto aqui foram ganhas e fotografadas por mim, que assim fiz para que elas se perpetuassem e não se perdessem na sua efemeridade. Nada mais adequado, portanto, a esse texto que diz tão bem sobre elas.

1 comentários:

Anônimo disse... @ 5 de janeiro de 2015 às 07:15

Hey, como estamos? Continua escrevendo? Esta semana uma moça comentou naquele texto que escrevi sobre sua vontade de virar escritora. Mande notícias.

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