Pausa para meditação - Postagem temática

Sim, ele tinha cheiro de incenso. Sim, ele usava batas indianas e era vegano. Mas, beijava muuuuito - e isso era o que importava.


Ela gostava de shopping, roupas caras, detestava tudo o que viesse de algum país sujo do extremo oriente e adorava uma churrascaria. Mas, ele beijava muuuuuito - e então 'tava tudo certo.


Tudo certo até o dia em que ele a chamou para uma sessão de meditação a ser feita no Espaço Yoga, com uma monja zen budista. Ela, que até então tinha como máximo contato com assuntos esotéricos uma entrevista lida na Caras com a numeróloga Aparecida Liberato, quis saber mais, no que seu amado disse que meditar era esvaziar a mente e, em SILÊNCIO, buscar uma resposta para seus questionamentos.


Quando ela ouviu a palavra SILÊNCIO, desesperou-se, já que não parava de falar um minuto. Calar-se era uma grande tortura, mas como ele beijava muuuuito, ela resolveu aceder. Afinal, o que seriam 15 minutinhos de SILÊNCIO? Fariam até bem. Mas, não eram 15 minutinhos, ele disse. Era uma hora inteira! Ela entrou em desespero, mas aí lembrou-se de que ele beijava muuuuito. E lá foi ela foi à tal sessão, que, por sinal, não era de graça e custava o preço de um sapatinho novo no shopping.

Já começou a se sentir meio idiota na chegada: todo mundo à vontade, de calças largas e sapatilhas e ela com uma skinny e botas cowboy com saltos que faziam barulho. E logo ela viu o motivo: tinha que sentar em posição de lotus e, com a calça apertada daquele jeito, não conseguiria de jeito nenhum.

Mas, com o devido esforço, ela conseguiu se sentar e ficar quieta. Cinco minutos de SILÊNCIO e ela já começou a olhar meio atravessado pr'aquele menino de bata indiana e sentiu um certo enjoo com aquele cheiro de incenso. Ele beijava bem, é verdade, mas valia a pena ficar sem respirar, com aquela calca trucidando seu diafragma e sem falar por uma hora inteira? E se o tal beijo fosse só propaganda enganosa e na hora do vamo-vê ele não fosse aquilo tudo? Que agonia, meu Pai, vontade de sair correndo!

O tempo foi passando len-ta-meeeen-te e, meia hora depois, ela já estava tentando entender o que viu naquela criatura saída de uma cena de Hair e, francamente, meio cafona pros dias de hoje. Lembrou do último beijo que deram e sentiu nojinho.

Mais quinze minutos e ela já pensava sinceramente em homicídio e no ódio mortal que sentia por aquele hippiezinho desprezível que a fizera se calar por uma hora inteira e ter aquela câimbra insuportável.

Ufa, terminou a sessão tortura! O rapaz, pobre ingênuo, perguntou o que ela tinha achado da experiência e ela pediu que ele nunca mais lhe dirigisse a palavra, deixando-o a dizer que não entendia as mulheres.

Chegando em casa, disse que nunca mais iria cair numa dessas e que só iria sair com meninos do seu meio. Até ouvir uma mensagem na caixa postal do seu celular, do Diogo, da dupla Diogo e Diego, convidando-a para sair. Ela odeia música sertaneja, é verdade, mas aquele Diogo beija tão bem...


* Este texto faz parte do projeto "Postagem Temática", do http://blogsintonizados.blogspot.com/, que tem como tema o SILÊNCIO.