Adolescente (2)

Não sei se é porque estou com 41 anos, não sei se é porque estou próxima a completar duas décadas de formada. A verdade é que ando com um comportamento adolescente, querendo experimentar novidades. E nisso se inclui uma inesperada vontade de voltar a estudar, só não sei exatamente o que. Cada dia eu penso em fazer uma coisa diferente. Já pensei em moda, publicidade, letras, serviço social e psicologia. Mas, agora, estou decidida a fazer filosofia ou música, pelo menos até resolver que quero estudar arquitetura.

Eu tenho plena consciência de que ser filósofo não traz prestígio e muito menos dinheiro. E pior que ser filósofo, é ser músico.

O diálogo com o músico é mais ou menos assim:

- Olá, eu sou contador. E você, faz o que?

- Sou músico.

- Ah bacana, mas no que você trabalha?

- ...

Já com o filósofo, é assim:

- Aí cara, eu me formei em Direito. E você?

- Filosofia.

- Pô, maneiro... mas, pra quer serve isso mesmo?

- ...

Sendo assim, concluo que vivemos num mundo de formigas pragmáticas, que tem como objetivo trabalhar, ganhar e guardar.

Pra que pensar sobre o motivo de eu estar aqui? Por que perder tempo ouvindo Bach?

Tudo isso é perda de tempo e atrapalha meus planos de trabalhar mais e mais para ganhar mais dinheiro para, quem sabe um dia, parar de trabalhar e, ao som de Bach, pensar no motivo de eu estar aqui.

E pensar que, na Índia, os filósofos pertencem à mais alta casta, mais alta mesmo que a dos governantes. Isso dá o que pensar...