No corredor do tempo
Published by Adriana Neumann under on 8:20:00 AM
Aqui sentada num certo corredor, esperando ser chamada para uma entrevista, começo a pensar na relatividade do tempo... ah, como ele custa passar quando é de espera e como ele vai rápido quando de prazer...
E aí me vem a mente um outro corredor, em outro tempo. Um corredor frio, tempo sofrido, corredor de hospital. Faz quinze anos, mas me recordo como se fosse hoje do meu choro naquele corredor, como que querendo esvaziar a alma, colocar as entranhas pra fora em dor e ansiedade, como me sujeitando ao máximo de humilhação possível para uma criatura, pra ver se Deus me ouvia.
Eu olho para a maçaneta da porta que irá girar a qualquer instante e me lembro de outra maçaneta, da porta da UTI daquele hospital, que eu esperava girar trazendo uma notícia, uma palavra, uma esperança...
E ali, naquele corredor, se escoaram os dias. Minha irmã, minha amiga estava atrás daquela porta, lutando por sua vida, e eu aqui, vazia, tentando imaginar como poderia viver sem a presença dela e me desesperando porque sabia que não ia conseguir. E eu aqui, me perguntando se a amei o suficiente, se não fui suficientemente presente e boa para ela, justo ela que tanto amor, tanta presença e tanta bondade tinha.
A porta se abre agora e eu tenho que entrar para a entrevista. A porta se abriu naquele dia, para deixar fugir a esperança. Entro agora ansiosa pelo que há de vir. Entrei naquele dia com a alma dilacerada para pegar na sua mão e sentí-la apertar a minha e seu coração disparar... pensei ser um milagre, mas era somente seu gesto de despedida.
Inevitável lembrança, que me arranca uma lágrima nesse momento tão inoportuno. Me pergunto o porquê disso e me lembro dela ter dito que havia deixado uma música para mim: You'll Never Walk Alone. Na época, não entendi a razão da dedicatória, mas hoje sei que ela havia dito uma profecia, adivinhando meu sentimento de solidão, dizendo que eu nunca estaria sozinha.
Então, percebo que a lembrança foi uma forma de dizer que ela está comigo agora, nesta entrevista. Então, me tomo de uma calma e de uma segurança que não são minhas. E mais uma vez sinto aquela mão apertar a minha.
When you walk through a storm
Hold your head up high
And don't be afraid of the dark.
At the end of a storm,there's a golden sky
And a sweet silver song of a lark.
Walk on through the wind,Walk on through the rain
Though your dreams be tossed and blown....
Walk On! Walk On! With hope in your heart,
And you'll never walk alone....
Em tempo: "You'll Never Walk Alone" é uma canção composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II para seu musical de 1945, Carousel.
No musical, a canção é entoada após a morte do papel principal, Billy Bigelow, para encorajar Julie Jordan, grávida àquela altura, e é reprisada na cena final para encorajar uma classe de formatura da qual Louise (filha de Billy e Julie) é um membro.
E aí me vem a mente um outro corredor, em outro tempo. Um corredor frio, tempo sofrido, corredor de hospital. Faz quinze anos, mas me recordo como se fosse hoje do meu choro naquele corredor, como que querendo esvaziar a alma, colocar as entranhas pra fora em dor e ansiedade, como me sujeitando ao máximo de humilhação possível para uma criatura, pra ver se Deus me ouvia.
Eu olho para a maçaneta da porta que irá girar a qualquer instante e me lembro de outra maçaneta, da porta da UTI daquele hospital, que eu esperava girar trazendo uma notícia, uma palavra, uma esperança...
E ali, naquele corredor, se escoaram os dias. Minha irmã, minha amiga estava atrás daquela porta, lutando por sua vida, e eu aqui, vazia, tentando imaginar como poderia viver sem a presença dela e me desesperando porque sabia que não ia conseguir. E eu aqui, me perguntando se a amei o suficiente, se não fui suficientemente presente e boa para ela, justo ela que tanto amor, tanta presença e tanta bondade tinha.
A porta se abre agora e eu tenho que entrar para a entrevista. A porta se abriu naquele dia, para deixar fugir a esperança. Entro agora ansiosa pelo que há de vir. Entrei naquele dia com a alma dilacerada para pegar na sua mão e sentí-la apertar a minha e seu coração disparar... pensei ser um milagre, mas era somente seu gesto de despedida.
Inevitável lembrança, que me arranca uma lágrima nesse momento tão inoportuno. Me pergunto o porquê disso e me lembro dela ter dito que havia deixado uma música para mim: You'll Never Walk Alone. Na época, não entendi a razão da dedicatória, mas hoje sei que ela havia dito uma profecia, adivinhando meu sentimento de solidão, dizendo que eu nunca estaria sozinha.
Então, percebo que a lembrança foi uma forma de dizer que ela está comigo agora, nesta entrevista. Então, me tomo de uma calma e de uma segurança que não são minhas. E mais uma vez sinto aquela mão apertar a minha.
When you walk through a storm
Hold your head up high
And don't be afraid of the dark.
At the end of a storm,there's a golden sky
And a sweet silver song of a lark.
Walk on through the wind,Walk on through the rain
Though your dreams be tossed and blown....
Walk On! Walk On! With hope in your heart,
And you'll never walk alone....
Em tempo: "You'll Never Walk Alone" é uma canção composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II para seu musical de 1945, Carousel.
No musical, a canção é entoada após a morte do papel principal, Billy Bigelow, para encorajar Julie Jordan, grávida àquela altura, e é reprisada na cena final para encorajar uma classe de formatura da qual Louise (filha de Billy e Julie) é um membro.
2 comentários:
E depois de tantos anos convivendo com ela, ouvindo suas palavras, vendo seus gestos, ainda me surpreendo com a beleza dos seus escritos...
Faufignot
Há tanto sentimento em suas palavras, que dá para viver junto com você o ocorrido.
Bjs
Margareth
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